segunda-feira, 25 de julho de 2011



            Pedimos licença aos nossos leitores de língua portuguesa para divulgar o texto “Bilanz der Rezeption der KonstanzerSchule in BrasilienVorbemerkung”, escrito por Gunter Karl Pressler. Nesse texto, Pressler traça o percurso da recepção no Brasil de um dos principais representantes da Escola de Constança: Wolfgang Iser. O objetivo deste post é contextualizar a nossa pesquisa para o público estrangeiro, começando, notadamente, pelo público de língua alemã de modo geral, mas em específico o da Alemanha, país de onde a corrente teórica da Estética da Recepção é nativa.
Cada grande iniciativa requer uma grande responsabilidade. O Grupo de Pesquisa construiu este blog em uma tentativa que tem se mostrado bem sucedida ao divulgar os resultados dos anos de atuação na Universidade Federal do Pará. Esses resultados se configuram como uma contribuição importante para a área de Letras e Artes. E para continuar com este projeto é necessário dar um novo passo: atualizar o blog na língua alemã.
Agradecemos a todos os seguidores e interessados pelo blog por toda atenção dispensada até agora.
PS: Publicaremos brevemente o texto complementar “Três Leitores: a contribuição da Escola de Constança para o estudo da literatura”, em que Pressler aborda o processo da leitura envolvendo três tipos diversos de leitores: o profissional, o implícito e o empírico comum.


Bilanz der Rezeption der Konstanzer Schule in Brasilien

Vorbemerkung
Gunter Karl Pressler (UFPA)

In den folgenden Tagen bringt unser blog einen ersten, die Forschung im Bereich des Programms PIBIC zusammenfassenden Artikel aus dem Jahre 1999 [erschienen 2001], “Três Leitores. A Contribuição da Escola de Constança para o Estudo da Literatura” (“Drei Leser-Begriffe. Der Beitrag der Konstanzer Schule für das Studium der Literatur”). In diesem, wie in dem nachfolgenden Artikel in der Antologie Literatura, Cultura, Sociedade (Maceió: 2001, herausgegeben von José Niraldo de Farias und Sheila D.Maluf von der Universidade Federal de Alagoas/UFAL), handelt es sich um eine Bilanz der Rezeption der Konstanzer Schule in Brasilien hinsichtlich ihrer Bedeutung für die literaturgeschichtliche Diskussion in Brasilien. Die Arbeiten von Hans Robert Jauβ erhielten anfangs mehr Gewicht als die von Wolfgang Iser oder anderen Autoren des Konstanzer Umfeldes (Karlheinz Stierle und Hans Ulrich Gumbrecht).
An dieser Stelle sollen einige Hinweise, insbesondere auf die Bedeutung Wolfgang Isers in Brasilien gegeben werden. Das Buch Der Akt des Lesens erschien im Jahre 1976. Es war nach Der Implizierte Leser (1972) das zweite Werk Iser, das seine Theorie der Wirkungsästethik vorstellt. Dieses Buch wurde unter dem Titel O Ato da Leitura in zwei Bänden, 1996 und 1999, veröffentlicht. Auszüge sind aber schon in früheren Büchern erschienen; Teile des IV Kapitels (“Interaktion von Text und Leser”. A bis B 3.) in der Anthologie von Luiz Costa Lima, A Literatura e o Leitor (1979). In der 2.Auflage der Anthologie in 2002 wurde Isers Beitrag ausgetauscht, statt “Interaktion” “O Jogo do Texto” (“Das Spiel des Textes”). Das Quellenverzeichnis verweist auf den englischen Text, veröffentlicht 1989 (Columbian University Press). Der Beitrag ist eine Vorstudie des V.Kapitels von Das Fiktive und das Imaginäre. Zwei Texte Isers finden sich in der Anthologie Teorias da Literatura em suas Fontes (2.Aufl.1983, Neuauflage 2002): “Zur Problemlage gegenwärtiger Literaturtheorie. Das Imaginäre und die epochalen Schlüsselbegriffe” (1979) und ein Beitrag vom X.Kongress der Gruppe Poetik und Hermeneutik (1979) “Akte des Fingieren oder was ist das Fiktive im fiktionalen Text”, eine Vorstudie des I.Kapitels von Das Fiktive und das Imaginäre. Ein kleiner Text im Original in Englisch, “Indeterminacy and Reader Response in Prose Fiction” (1971), wurde 1999 in Rio Grande do Sul an der Pontifícia Universidade Católica (PUC/RS) ins Portugiesische übertragen.

Das besondere Interesse am Werk Isers, insbesondere an der Landesuniversität in Rio de Janeiro (UERJ), das mit dem VII Kolloquium im Jahre 1996 die Frage nach der Theorie des Fiktiven untersuchte und dazu Wolfgang Iser einlud (Veröffentlichung der Kongressakten im Jahre 1999), galt aber der Literarischen Anthropologie und nicht dem implizierten Leser oder dem Leseakt. Das Buch Das Fiktive und das Imaginäre. Perspektiven literarischer Anthropologie (1991) wurde relativ schnell und zwar schon 1996 übersetzt (pünktlich zum Event).

Welche Ressonanz haben die Werke der Konstanzer Schule in Brasilien gefunden? Die vorherigen Beiträge in diesem blog geben darüber Auskunft. Einerseits nun ein Wort zu der brasilianischen Sekundärliteratur in Bezug auf die theoretische Diskussion der Rezeptions- und Wirkungsästhetik und anderenseits soll die Frage nach dem Nachhall brasilianischer Autoren in der internationalen, bzw. deutschen Diskussion gestellt werden. Die letztere Frage läβt sich schnell beantworten: keine Beteiligung. Luiz Costa Lima hat einige wenige deutsche Übersetzungen, bzw. Zeitschriftenbeiträge vorzuzeigen, Die Kontrolle des Imaginären, Suhrkamp 1990; und zwei Artikel im Jahre 1996, aber nichts über die Rezeptionsästhetik. Was verwunderlich erscheint, hat er doch in zwei wichtigen Anthologien Texte der Konstanzer Autoren in Brasilien bekannt gemacht. Aber über einleitende Bemerkungen zu den Konstanzer Texten hinaus ist die Beschäftigung L.Costa Lima mit rezeptions- und wirkungsästhetischen Theorievorschlägen nicht vorgedrungen. Das lange Vorwort zur 2.Auflage von A Literatura e o Leitor (2002) ist sozusagen unnötig, da es eine sehr gute Einleitung von Regina Zilberman gibt (A Estética da Recepção e História da Literatura, 1989). Sie befindet sich aber nicht einmal in der Bibliographie. Dies zeigt zum wiederholten Male, dass die brasilianische Sekundärliteratur von den eigenen, im Lande publizierten Beiträgen keine Kenntnis nimmt.
João Cezar de Castro Rocha, führendes Mitglied des Organizationskomitees des VII Kolloquiums im Jahre 1996 in Rio de Janeiro, hat 2002 bei Hans Ulrich Gumbrecht seinen zweiten Doktortitel erworben und in den Jahren 2005/2006 ein Post-Doktorstudium an der Freien Universität Berlin, bei Joachim Küpper, absolviert. Es liegen aber keine deutschen Veröffentlichungen und auch keine Beiträge zur Konstanzer Schule vor. Damit dürfte festzustellen sein, dass über den Gebrauch von den bekannten Schlüsselbegriffen (Erwartungshorizont, Implizierter Leser, Leseakt) die Konstanzer Rezeptions- und Wirkungsästhetik keinerlei Spuren in Brasilien hinterlassen hat.


terça-feira, 3 de maio de 2011

O Leitor Comum
Gunter Karl Pressler (UFPA)

O texto de Rosa Maria Siqueira de Carvalho e Deysiane Teixeira Ferreira, ainda da primeira fase da pesquisa sobre a Estética da Recepção, dedica-se à questão do leitor empírico, na figura de alunos do ensino fundamental. O trabalho foi desenvolvido, baseado nos pressupostos teóricos da Escola de Constança, em vista de uma metodologia que busca “proporcionar condições para que o leitor possa expressar opiniões pessoais a respeito da obra literária com a qual está interagindo” (Ferreira/De Carvalho, 1998). Trata-se de um primeiro levantamento sobre a percepção estética de alunos ainda pouco comprometidos com questões da literatura. Infelizmente, esta pesquisa não continuou depois da saída dos alunos da graduação. Somente anos depois, num outro momento do grupo, começou um levantamento de dados sobre a percepção estética e a receptividade de textos literários com leitores comuns, desta vez, com alunos da graduação, alunos do curso de Letras, tanto em Belém, quanto no interior.
Mesmo preocupado com os métodos da história da literatura (cf. o título da aula inaugural, em 1967, e as publicações, particularmente o famoso volume “verde” da editora Suhrkamp, em 1970), o impacto com a proposta de Hans Robert Jauss recaiu sobre o conceito de leitor. “Jauss formula então um novo conceito de leitor”, constata Maria J.Angeli de Paula, que não sabe explicitá-lo (1994: 185); Elrud Ibsch (1995: 307) prefere “deixar em aberto o sentido do conceito de ‘leitor’”. Horst Steinmetz percebe que “até aí [1967] não existia uma consciência do papel activo do intérperte como receptor” (1981: 152). Mas como conceituar e investigar os diferentes tipos de leitores?

O primeiro reader sobre a Estética da Recepção, de Rainer Warning (1975), ressalta somente a seleção de textos teóricos, excluindo textos de “pesquisa empírica da recepção”, pois esta não constitui uma disciplina dentro “de las ciencias de la literatura, sino mas bien dentro de la sociologia o la psicologia”. A maior preocupação de Warning era de poder conseguir uma descrição textual dos processos de recepção (“Voraussetzung für beides aber ist, daβ die Literaturwissenschaft ihrerseits zunächst einmal Rezeptionsprozesse texttheoretisch beschreiben kann”, 1975/1994: 7; “procesos de recepción desde la perspectiva de la teoría del texto”, 1989: 11). A pesquisa de Rosa Maria Siqueira de Carvalho e Deysiane Teixeira Ferreira ocorreu naquele espaço que Warning considerou ser importante para “la ciencia de la literatura en el marco de uma interdisciplinariedad controlada, es decir, referida a la teoria, y también en el marco de la didática de la literatura” (1989: 11).  
Também em 1975 e dois anos depois, Gunter Grimm apresenta uma pesquisa exausta sobre os processos de recepção por leitores empíricos. Grimm acentuou os seguintes polos: “a concretização adequada da obra” e “o sujeito-receptor como sujeito sócio e culturalmente atuando”. Os polos se entendem como complementares, pois a concretização de uma obra de arte é sempre, diz Grimm, “uma realização do diálogo implícito entre o potencial e o expressivo literário da obra e a leitura de um sujeito em tempo e espaço determinado” (1977: 5). O que significaria “concretização de uma obra de arte”? E como “concretizar o sujeito-receptor ?
A concretização de uma obra de arte (literária) se fixa em articulações orais e escritas. Esses são os primeiros documentos da recepção e fundamentam a história da recepção na perspectiva da história social. Gunter Grimm aponta a pesquisa empírica como imprescindível de todo o processo de recepção e como ponto de partida figura o sujeito-leitor com ênfase na sua configuração sociocultural. O sujeito-leitor é móvel nas formas temporariamente assumidas com possibilidades de leituras variadas.
Grimm marca a importância da pesquisa empírica e critica a teoria da recepção de cunho hermenêutico que se serve da “concretização adequada da obra” em favor da sua própria “Interpretação sintética” da obra de arte: “Gegenüber den Verfechtern einer hermeneutisch orientierten Rezeptionsforschung, denen die ‘werkadäquaten Konkretisationen’ letztlich zur Erstellung einer eigenen Super-Konkretisation oder ‘synthetischen Interpretation’ dienen” (1977: 5).
Infelizmente, a pesquisa de Gunter Grimm não foi traduzida para poder nortear a pesquisa empírica no Brasil; o reader de Warning se encontra traduzido para o espanhol, mas os textos fundamentais foram apresentados por Luis Costa Lima (1975/1983/2002, 1979/2002). O impacto da proposta (não automaticamente da teoria) da Escola de Constança no Brasil é visível por inúmeros trabalhos: Brecht no Brasil (1987), A Recepção da Escola de Frankfurt no Brasil (1994), Lima Barreto e sua Recepção (1995), Borges no Brasil (2001), Benjamin, Brasil (2006),

Referências Bibliográficas:

Angeli de Paula, Maria José, “A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária de Hans Robert Jauss” (Resenha), in: Anuário de Literatura (Florianopolis) No. 2, 1994, Universidade Federal de Santa Catarina, Curso de Pós-graduação em Letras, Literatura Brasileira e Teoria Literária, pp. 185-187.
Bader, Wolfgang (Org. e introdução), Brecht no Brasil. Experiências e Influências. Rio de Janeiro:  Paz e Terra 1987.
Chacon, Vamireh. “A Recepção da Escola de Frankfurt no Brasil”. In: Revista Brasileira de Filosofia (São Paulo), Vol. XVI, Fac. 176, Out.-Dez. 1994: 453-457.
Figueiredo, Maria do Carmo L. O Romance de Lima Barreto e sua Recepção. Belo Horizonte: Lê 1995.
GRIMM, Gunter. Literatur und Leser. Theorien und Modelle zur Rezeption  literarischer Werke. Stuttgart: Reclam 1975.
Rezeptionsgeschichte. Grundlegung einer Theorie. Mit Analysen und Bibliographie. München: Wilhelm Fink 1977 (UTB 691).
IBSCH, Elrud. “A Recepção Literária”. In: Mark Angenot, Jean Bessière, Douwe Fokkema e Eva Kushner (Orgs.). Teoria Literária. Problemas e Persepctivas. Trad. Ana Luísa faria e Miguel Serras Pereira. Lisboa: Dom Quixote 1995.
Jauss, Hans Robert. Literaturgeschichte als Provokation. Frankfurt a.Main 1970 (edition Suhrkamp 418).
Lima, Luiz Costa (Org), Teoria da Literatura em suas Fontes. Rio de Janeiro: Francisco Alves 1975 (Cap. Estética da Recepção e do Efeito, pp. 305-440); Rio de Janeiro: Civilização Brasileira 2002 (Vol. 2: cap. G, pp. 873-1014).
A Literatura e o Leitor. Textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra 1979; 2ª. ed. revista e ampliada, Rio de Janeiro: Paz e Terra 2002.
Pressler, Gunter Karl. Benjamin, Brasil. A Recepção de Walter Benjamin no Brasil, de 1960 a 2005. Um Estudo sobre a Formação da Intelectualidade Brasileira. São Paulo: Annablume 2006 (livro e DVD-Rom).
SCHWARTZ, Jorge (Org.) Borges no Brasil. São Paulo: EDUNESP; Imprensa Oficial do Estado, 2001.
STEINMETZ, Horst. “7. Recepção e Interpretação”. In: A.Kibédi Varga (org.) Teoria da Literatura. Trad. Tereza Coelho. Lisboa: Presença [1982] (Original francês de 1981).
Warning, Rainer. Rezeptionsästhetik. Theorie und Praxis. München: Fink 1994 (4a ed.; original 1975).
Estética de la Recepción. Madrid: Visor 1989 (La Balsa de la Medusa, 31).



A Receptividade e a Percepção dos Aspectos Estéticos dos Contos de Christian Andersen por Leitores Empíricos da 5ª Série em Escola Pública Municipal

Rosa Maria Siqueira de Carvalho
Bolsista (PIPES/UFPA – 1998-2000)
Deysiane Teixeira Ferreira
Voluntária
Cadernos de Estudos Linguísticos e Literários/UFPA (Belém), No. 1, 1999


Durante muitos anos o estudo e o ensino da literatura foram efetivados em bases estilísticas e formais, nas quais o autor e a obra ocupam o lugar central, isto é denominado por Hans Robert Jauss (1967) como estética da produção. O resultado desse tipo de postura contribui para a formação de leitores passivos, desacostumados a estabelecer sua própria interpretação de uma obra literária ou mesmo de um simples texto.
A Estética da Recepção consiste em um novo olhar sobre a literatura, à medida que concede ao leitor uma posição privilegiada no estudo de uma obra literária. A literatura é uma expressão estética, ou seja, uma concepção complexa do belo e como tal pode ser apreciada em graus diferentes pelo leitor, visto que o ser humano tem uma capacidade inerente para a percepção estética (cores, formas). Sendo assim o leitor é capaz de perceber aspectos estéticos de uma obra literária, superficial ou profundamente, dependendo da sua formação e do “grupo” de leitores no qual está inserido.
Existem três grandes categorias de leitores empíricos, ou seja, leitores que tem existência real, opondo-se ao leitor implícito, que existe apenas na estrutura textual, na visão de Wolfgang Iser (1972/1994).
·         a primeira categoria é formada por leitores empíricos competentes, que se caracterizam por possuir um grande conhecimento sobre literatura e teoria literária (pesquisados por Jauss).
·         a segunda compreende o grupo de leitores empíricos informados, que possuem um conhecimento prévio de literatura e teoria literária: estudantes universitários da graduação (pesquisados por Gunter Grimm e outros).
·         a terceira é composta por leitores empíricos comuns, que se diferenciam dos anteriores por possuírem pouco ou nenhum conhecimento sobre literatura e teoria literária, e normalmente não se expressam de forma escrita (pesquisados por Gunter Grimm e outros).

Essas Categorias dividem-se em subcategorias por cinco fatores principais, a saber: hábitos de leitura, situações de leitura, expectativas de leitura, necessidades de leitura e experiências de leitura. Existem outros fatores de ordem social e intelectual que interferem na leitura, tais como: meio, idade, gosto, posição social, competência linguística, formação, conhecimento prévio, etc.
Partindo desse pensamento, pesquisadores como Gunter Grimm, Gerhard Köpf, Harmut Eggert, Hans Christoph Berg e Michael Rutschky, estimulados pelos estudos de Hans Robert Jauss, desenvolveram na Alemanha uma “onda” enorme de levantamentos empíricos. Esses estudiosos lançaram a proposta de trabalhar a literatura por via da experiência estética de leitores. Por ocupar uma posição privilegiada no âmbito literário, o leitor deve ser observado com atenção especial. Todas as categorias necessitam ter suas potencialidades explicitadas e valorizadas Para eles a experiência estética é o ato da insubordinação que se contrapõe a interpretações preestabelecidas de uma obra literária.

O presente estudo pretende evidenciar as características mais marcantes dos leitores empíricos comuns, através de observações realizadas por eles acerca da obra de Hans Christian Andersen. Baseando-nos em alguns estudiosos, podemos extrair características da obra de Andersen as quais serviram de parâmetros teóricos usados na pesquisa de campo.
Nelly Novaes Coelho (1991) aponta as seguintes características: o poder de tocar a sensibilidade do leitor, a humanidade, a emotividade, os personagens sofredores ou mesmo mutilados e a violência. E José Paulo Paes (1990) cita a presença dos elementos fantástico, escrita precisa e econômica, traços de amargura, presença do maravilhoso, caráter mordaz e poético dos contos, como pontos marcantes na obra do escritor dinamarquês.
Selecionamos sete contos para serem trabalhados durante a pesquisa de campo. São eles: “A Pequena Vendedora de Fósforo”, “A Sereizinha”, “O Isqueiro”, “A Menina que pisou no Pão”, “O Intrépido Soldadinho de Chumbo”, “O Patinho Feio” e “A Sombra”.
No primeiro conto trabalhado “A Pequena Vendedora de Fósforos”, identificamos as características da obra de Andersen, percebidas pelos leitores empíricos comuns e pudemos observar o funcionamento do conceito abordado por Jauss denominado Quebra do Horizonte de Expectativa, o leitor é envolvido e conduzido pelo narrador a esperar um determinado desfecho para a história, mas esse final acaba por surpreendê-lo, contrariando todas as hipóteses construídas ao longo da leitura. Segundo Jauss, uma obra literária, para ser considerada realmente uma obra de qualidade, deve romper o horizonte de expectativa do leitor.
Apresentamos a seguir um quadro expositivo com os primeiro dados recolhidos na pesquisa de campo:


Tópicos gerais
Subtópicos
Total de leitores
Características específicas da obra de Hans C. Andersen observadas a partir de um questionário subjetivo prévio apresentado aos leitores
a) Melancolia e tristeza
b) Maravilhoso
c) Religiosidade
d) Realismo
e) Linguagem trabalhada
f) Leitores que não apontaram os traços (b, c, d, e)
Todos
06
04
03
01

04
Reconhecimento da personagem principal observada a partir de um questionário subjetivo prévio apresentado aos leitores
a) Apenas a menina
b) A menina e a avó
c) A menina e a mãe*
d) A menina e os fósforos
e) Leitores que não identificaram nenhum personagem
12
02
01
01

02
Percepção dos aspectos de literariedade observados a partir da comparação do conto com um texto informativo feita através de discussões, gravadas em fita k7
a) Ficção
b) Maravilhoso
c) Verossimilhança
d) Estética
e) Linguagem trabalhada
f) Leitores que não perceberam nenhum aspecto de literariedade

16
16
16
16
16

02
Atribuição de títulos observados a partir de um questionário subjetivo prévio apresentado aos leitores
a) Títulos coerentes
b) Títulos incoerentes
13
05
Conceito de Jauss
a) Quebra do horizonte de expectativa
18
*Observação: A personagem mãe não existe no conto A pequena vendedora de fósforos, é fruto da imaginação de um único leitor.

Verificamos após o término da pesquisa de campo, primeiramente, a experiência estética dos leitores empíricos comuns, e posteriormente, compararemos o resultado obtido com análises feitas por leitores profissionais. Esse trabalho propiciará o melhor conhecimento sobre o leitor empírico comum e sobre a importância da obra de Hans Christian Andersen.

Referências Bibliográficas:

Coelho, Nelly Novaes. O Conto de Fadas. São Paulo: Ática, 1991 (2ª.ed.).
Eggert, Hartmut; Berg, Hans Christoph e Rutschky, Michael. „Zur notwendigen Revision des Rezeptionsbegriffs“. In: Walter Miiller-Seidel (Org.), Historizität in Sprach- und Literaturwissenschaft. Vorträge und Berichte der Stuttgarter Germanistentagung. München: Wilhelm Fink 1974.
GRIMM, Gunter. Literatur und Leser. Theorien und Modelle zur Rezeption  literarischer Werke. Stuttgart: Reclam 1975.
Rezeptionsgeschichte. Grundlegung einer Theorie. Mit Analysen und Bibliographie. München: Wilhelm Fink 1977 (UTB 691).
ISER, Wolfgang. Der implizierte Leser. Kommunikationsformen des Romans von Bunyan bis Beckett. München: Fink 1994 (3 a ed.; original 1972).
JAUSS, Hans Robert. A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária. Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática 1994.
Köpf, Gerhard. Rezeptionspragmatik.
PAES, José Paulo (Org.). Contos de Andersen. Trad. Olivia Krähenbühl. São Paulo: Circulo de Livro/Cultrix [s.d.]

domingo, 17 de abril de 2011

Prelúdio


Escola de Constança
Teoria da Recepção
Gunter Karl Pressler (UFPA)

Rômulo Fernando Martins de Sant’Ana
in memoriam

Na proposta da Escola de Constança (1967-1983), articulam-se as inquietações teóricas das mais variadas vertentes teóricas no campo de Letras desde a virada do século XIX ao século XX. Hans Robert Jauss reconhecia que na história da literatura “o leitor, claro, sempre esteve envolvido ― como destinatário do autor; como uma parte da mediação entre a obra e seu efeito; como um sujeito que recebe, seleciona e rejeita na formação da tradição. Não obstante, a história das artes, desde o começo de sua consideração científica no período do Humanismo Renascentista, foi de tal modo entendida como a história da obra e de seus autores; o leitor (ou público), como parte desta, não foi expressamente considerado, ou foi relegado ao campo «não-científico» da retórica” (Jauss, 1989: 117). A tematização desta última “parte” (Instanz) foi a inovação da Escola de Constança: compreender e teorizar a “história da literatura como processo comunicativo entre as três instâncias” (1983: 125) — conceituado como “história da recepção e do efeito das obras”.
No contexto do debate na Alemanha, a proposta, particularmente a de Jauss, a partir de 1977 (Ästhetische Erfahrung und Literarische Hermeneutik 1: Versuche im Feld der ästhetischen Erfahrung), se formou como contra-proposta à Estética Negativa de Theodor W. Adorno, da Escola de Frankfurt.
O nosso grupo de pesquisa na Universidade Federal do Pará começou a tratar da Escola de Constança no contexto do Programa de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq), em 1998. Até hoje (abril de 2011), os resultados da pesquisa de 1998 a 2001, publicados em artigos e livros, continuam atuais em relação aos dados levantados (traduções e críticas), o que motivou o grupo atual de pesquisa e do blog a publicá-los. Os dados que devem ser atualizados se referem ao número dos trabalhos acadêmicos (dissertações e teses de doutorado) que tratam da proposta teórica e das aplicações da metodologia.
Primeiramente, neste blog, republicaremos os primeiros trabalhos daquele grupo de pesquisa, para então publicarmos, gradualmente, os resultados das atividades do grupo atual. O artigo aqui postado (revisto) é uma homenagem a um aluno talentoso, daquela primeira geração, que faleceu cedo demais.

Referências Bibliográficas:

Jauss, Hans Robert. Ästhetische Erfahrung und Literarische Hermeneutik 1: Versuche im Feld der ästhetischen Erfahrung. München: Fink 1977.
————————— Experiencia Estética y Hermenéutica Literaria: Ensayos en el Campo de la Experiencia Estética. Madrid: Taurus 1986.
———————— “Historia Calamitatum et Fortunatum Mearum. Oder: Ein Paradigmawechsel in der Literaturwissenschaft”. In: Forschung in der Bundesrepublik Deutschland. Beispiele, Kritik, Vorschläge. Weinheim: Verlag Chemie 1983: 121-134.
———————— “Historia Calamitatum et Fortunatum Mearum or: A Paradigma Shift in Literary Study”. In: Ralph Cohen (Org.). The Futur of Literary Theory. Trad. do alemão Rodger C. Norton. London: Routledge 1989: 112-128 (trad. da citação para o português: Fabrício N. de Luz Pinho)


A Repercussão da Estética
da Recepção no Brasil

Bolsista: Rômulo Fernando Martins de Sant’Ana
Orientador: Professor Dr. Gunter Karl Pressler
IX Seminário de Iniciação Científica da UFPA/1999

A importância da Estética da Recepção deve ser entendida a partir da sua proposta de reescrever a história da literatura mediada via horizonte de expectativa do leitor crítico e pela motivação de uma série de questionamentos das premissas que, até então, orientaram a historiografia no âmbito da literatura. Neste trabalho, a partir da leitura dos textos originais dos teóricos alemães da Escola de Constança e das traduções feitas no Brasil, será feito um estudo da repercussão desta vertente teórica no Brasil, em particular dos trabalhos de Hans Robert Jauss, a fim de explicitar o seu conteúdo teórico e sua metodologia e saber como foi lida, interpretada e aplicada no Brasil. Jauss é o inaugurador dessa nova estética ao propor uma história da literatura que conjugasse tanto a historicidade das obras quanto as suas qualidades estéticas, sem deixar que uma sobrepujasse a outra. Para Jauss a história da literatura deve levar em conta os critérios de recepção e efeitos produzidos pelas obras nos leitores, meta principal daquele que produz a obra e da obra em si. A historicidade da obra literária cumpre-se principalmente no horizonte de expectativa dos leitores e é através da mudança de horizonte que se pode verificar o valor artístico da obra. Nesses primeiros dois meses de trabalho, realizamos o levantamento bibliográfico e apresentamos esta proposta em dois eventos de ordem acadêmica: IV Fórum Paraense de Letras (UNAMA) e XIX ENEL- Encontro Nacional dos Estudantes de Letras, realizado na UFPA.

A Estética da Recepção e
suas Traduções Brasileiras

Rômulo Fernando Martins de Sant’Ana
Bolsista (PIBIC/CNPq – 1998-2000)
Cadernos de Estudos Lingüísticos e Literários/UFPA (Belém), No. 1, 1999


A publicação do texto de Hans Robert Jauss, Literturgeschichte als Provokation der Literaturwissenschaft, em 1967 (traduzida em 1994: A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária) foi responsável, na década de 1970, pela redescoberta do interesse pela história da literatura. O texto de Jauss motivou tentativas de desenvolver modelos de análise dos complexos processos de transformação do fenômeno da literatura na tríade autor – obra – leitor. Jauss questiona as teses monocausais e globalizantes e também os conceitos evolutivos lineares a favor de explicações multicausais, funcionais e estruturais.
A proposta de Jauss tem como principal objetivo reescrever a história da literatura mediada via horizonte de expectativa do leitor. A proposta centralizou-se numa tentativa de conciliar o caráter histórico da obra de arte com seu caráter estético. Um dos méritos da Estética da Recepção foi pôr no centro da pesquisa o leitor, figura muitas vezes considerada irrelevante nas considerações sobre literatura, apesar de sua presença significativa na própria arte moderna, particularmente a partir dos movimentos de vanguarda no início do século XX. A inovação da Estética da Recepção “consistiu em ter ela abandonado a classificação da quantidade de exegeses possíveis e historicamente realizadas de um texto, em muitas interpretações ‘falsas’ e uma ‘correta’. Seu interesse cognitivo se desloca da tentativa de constituir uma significação procedente para o esforço de compreender a diferença das diversas exegeses de um texto” (Gumbrecht, 1975).
Em 1979, Luis Costa Lima organizou a coletânea A Literatura e o Leitor, contendo ensaios importantes de teóricos da Escola de Constança: A Estética da Recepção: colocações gerais e O Prazer Estético e as Experiências Fundamentais de Poiesis, Aisthesis e Katharsis, de Hans Robert Jauss; A Interação do Texto com o Leitor, de Wolfgang Iser; Que Significa a Recepção dos Textos Ficcionais, de Karlheinz Stierle; Sobre os Interesses Cognitivos, Terminologia Básica e Métodos de uma Ciência da Literatura Fundada em uma Teoria da Ação, de Hans Ulrich Gumbrecht. Esses foram os primeiros trabalhos da Escola de Constança traduzidos no Brasil.
Em 1983, a segunda edição do reader, organizado por Luis Costa Lima, A Teoria da Literatura em suas Fontes, oferece mais uma coletânea de ensaios dos teóricos da Estética da Recepção: O Texto Poético na Mudança de Horizonte da Leitura, de Hans Robert Jauss; Os Atos de Fingir ou o que é Fictício no Texto Ficcional e Problemas da Teoria da Literatura Atual, de Wolfgang Iser; A Teoria do Efeito Estético de Wolfgang Iser, de Hans Ulrich Gumbrecht.
Finalmente, em 1989, Regina Zilberman publica a pesquisa sobre a Escola de Constança: A Estética da Recepção e História da Literatura. Nesse livro, a autora, além de apresentar os pressupostos teóricos e metodológicos da Estética da Recepção, comenta os principais ensaios de Jauss e faz também uma primeira aplicação no romance Helena, de J. M. Machado de Assis. Zilberman incentiva também a primeira tradução no Brasil do texto que inaugurou a Estética da Recepção, publicado em 1994: A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária, de Hans Robert Jauss. Em Portugal já havia uma tradução desse texto em 1974.
Em 1996, Heidrun Krieger Olinto traduz e publica mais um texto de Jauss na coletânea intitulada Histórias de Literatura: as Novas Teorias Alemãs, no qual a autora mostra a importância da Estética da Recepção no contexto dos estudos da história da literatura na Alemanha pós-guerra.
No Brasil, diferentemente do que se acreditava, a indiferença quanto à Estética da Recepção não foi tão grande. As publicações, em 1979 e 1983, das coletâneas contendo os ensaios importantes dos teóricos da Estética da Recepção, mesmo realizada doze anos após a inauguração dessa vertente, aconteceram logo após o lançamento das edições francesa e americana. “Todavia, quando a antologia apareceu, outras tendências teóricas vinculadas, sobretudo, aos trabalhos de M. Bakhtin, W. Benjamin e J. Lacan, estavam igualmente sendo divulgadas, atraindo o intelectual brasileiro e, ao mesmo tempo, diversificando as opções de investigação, enquanto se encerrava o ciclo estruturalista, tão marcante e quase hegemônico durante a década de 70” (Zilberman, 1989: 6).
O que Zilberman não levou em conta é que tanto a tradução francesa quanto a americana trazem a conferência inaugural de 1967, na qual estão os pressupostos teóricos e metodológicos da Estética da Recepção, essenciais para entender a sua proposta. Luis Costa Lima ao optar por textos nos quais o tema central é a experiência estética, deixando de fora a conferência, teria truncado o entendimento dessa vertente teórica no Brasil e teria impossibilitado, assim, uma melhor compreensão da importância que assume a experiência estética do leitor na proposta de Jauss a respeito da nova escrita da história da literatura para a própria historiografia brasileira. A segunda coletânea de textos teóricos feita por Costa Lima, em 1983, traz o ensaio “O Texto Poético na Mudança de Horizontes de Leitura”, no qual Jauss está mais próximo de uma Hermenêutica Literária e faz uma análise do segundo poema “Spleen” de Charles Baudelaire. Nessa análise já havia um avanço da própria tese de Jauss. Concluindo, o texto que talvez tenha mais contribuído para a divulgação da proposta historiográfica da Estética da Recepção no Brasil é o livro de Regina Zilberman.
A Estética da Recepção, como já se disse anteriormente, é uma das vertentes mais importantes do século 20, dos estudos da Teoria Literária e da História da Literatura. A sua explicitação e aplicação contribuirão para o entendimento do fenômeno literário como histórico e estético, trazendo alternativas e ampliando possibilidades de estudos nessas áreas de conhecimento.


Referências Bibliográficas:

Gumbrecht, Hans Ulrich, “Sobre os Interesses Cognitivos, Terminologia Básica e Métodos de uma Ciência da Literatura Fundada na Teoria da Ação”. In: Luis Costa Lima (Org. e trad.). A Literatura e o Leitor. Textos da Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra 1979 (2ª ed. revista e ampliada 2002).
JAUSS, Hans Robert. A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária. Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática 1994.
—————————— História Literária como Desafio à Ciência Literária, Literatura Medieval e Teoria dos Géneros. Trad. Ferreira de Brito. Lisboa: José Soares Martins [1974].
—————————— A Literatura como Provocação (História da Literatura como Provocação Literária). Trad. Teresa Cruz. [Lisboa]: Veja 1993 (Passagens).
Lima, Luis Costa (Org.). A Literatura em suas Fontes. Vol.2. Rio de Janeiro: Francisco Alves 1983 (2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira 2002).
Olinto, Heidrun Krieger (Org.), Histórias de Literatura: as Novas Teorias Alemãs. São Paulo: Ática 1996.
Zilberman, Regina. A Estética da Recepção e História da Literatura. São Paulo: Ática 1989.


Postado por Gunter Karl Pressler, Érika Canavarro e Mário Neto.